quarta-feira, 14 de março de 2012

Exportação de jegue para a China


Chinês de olho nos jumentos do Nordeste - alimentação e cosmético
Convênio que prevê a exportação de 300 mil jegues por ano do Nordeste brasileiro para a China está provocando uma revolução na internet. Os chineses utilizam asnos na indústria de cosméticos e de alimentação. Atualmente, abatem cerca de 1,5 milhão de burros por ano, animais criados na própria China, na Índia e na Zâmbia. Querem aumentar esse abate para cerca de dois milhões por ano.
Os asininos brasileiros estão sobrando nos estados que vão da Bahia até o Rio Grande do Norte. O aquecimento da economia brasileira, graças ao crédito fácil e ao financiamento a perder de vista, encheu as cidades nordestinas, inclusive as do interior, de motocicletas, além de ter aumentado a utilização de máquinas pesadas nas lavouras e nas fazendas de gado. Como consequência, os jegues estão sendo subutilizados no trabalho pesado e no transporte.
Os chineses, com tino comercial de milênios, não demoraram a perceber que poderiam tirar proveito dessa situação. Empresários percorreram as fazendas e sítios nordestinos oferecendo crédito para quem se dedicar à criação desses animais para exportação. Como o jegue está abandonado pelas vias e rodovias do Nordeste, a proposta ganhou ares de negócio da China. Criar jegue é muito fácil, não dá trabalho nenhum.
Jegues estão sendo trocados por motos e tratores no NE
O problema começa pela questão cultural. O jegue é um animal adorado e respeitado no Nordeste e em outras regiões do Brasil. Está na música de Luiz Gonzaga, no folclore, no cinema e no teatro, sempre retratado como um animal trabalhador, amigo do dono e que gera pouca despesa e cuidado para quem se dedica à sua criação. Matar jegue para servir de alimento não está no nosso universo cultural. Então, quando se diz que o “bichinho” vai ser criado para depois virar comida e cosmético na China, a indignação é geral.
Ambientalistas já colocaram um abaixo-assinado na internet protestando contra mais esse atentado aos animais. O número de assinaturas já passa de cinco mil e os argumentos utilizados nas redes sociais são inacreditáveis. Alguns deles chegam a manifestar ódio profundo pelos chineses: “esses comedores de cachorro e de burro”. As autoridades do Rio Grande do Norte, que se manifestaram favoráveis ao projeto, estão sendo execradas em tempo integral: “eles defendem isso porque não é a mãe deles...”.
Como o número de adeptos ao manifesto é muito grande, e deve aumentar ainda mais, é possível supor que entre os revoltados encontram-se, certamente, contumazes apreciadores de carne bovina, de carneiro, de bode, de peixe etc. Muitos desses rebeldes adoram uma agradável almoço numa churrascaria, à base de picanha bovina e lombo suíno...
Alguns desses missivistas chegam a criticar o povo indiano porque uma boa parte da população morre de fome, mas não pode comer carne bovina, pois o boi é considerado um animal sagrado. Para os revoltados, “não dá pra entender a ignorância dos indianos”. Agora, os chineses, que não tem nenhuma adoração pelo jumento, não podem ter a pretensão de industrializar a carne de jegue. São execrados nas redes sociais.
É compreensível o respeito e o carinho pelos animais. Ser contra a matança deles é atitude louvável. Agora, não dá pra entender as contradições de pessoas que se dizem defensores da ética, mas na realidade estão sendo simplesmente moralistas.
Nessa discussão, apenas naturalistas, vegetarianos e os religiosos que condenam o uso da carne como alimento teriam direito a erguer a voz. A rigor, só esses cidadãos poderiam assinar o protesto contra a exportação de jumentos para a China. Quem defende, ou mesmo se cala diante da matança e exportação de bovinos, suínos e outros animais, não pode ser contra a comercialização de jumento para outros países... É muita incoerência.
Condenamos a matança de baleias, espécie em risco de extinção. Agora, se o bacalhau – aquela carne supimpa! – estiver correndo risco de sumir dos mares da Noruega ou de Portugal, teremos que ser contra sua pesca, pelo mesmo motivo.
Não é aceitável que se pouse de bonzinho, protetor dos animais, na internet, nas redes sociais, carregando tanta incoerência e contradição no mundo real. O mundo virtual não pode ser um refúgio para as nossas fraquezas e limitações.

ZECA BLOG

Nenhum comentário:

Postar um comentário